quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cativar / Esperar

" Ensinaram-me um verbo cuja beleza demora a compreender: cativar. Não é aprisionar, reter ou enredar. É andar, passo ante passo, cada um mais bem pensado e sentido que o anterior, para conseguir que uma coisa ou alguém se propricie a virar para o que somos, queremos, onde estamos e precisamos de ir.Pois a verdadeira esperança consiste em cativar, calmanente, o destino. Não é forçá-lo.Se o destino nos dá um encontro, se nos apresenta a possibilidade de um amor, por uma pessoa ou obra, que nos move e nos faz desejar chegar a ela, é preciso continuá-lo, devagarinho, pela nossa própria acção.
Mas temos de ser calculistas também. É uma prova de respeito.Como é fácil fazer fugir quem se quer cativar, afugentando-o com demonstrações demasiados sinceras e completas do que se sente - é dificil o trabalho do encantamento, que precisa de ser medido e pensado, sem medo de se estar a ser sincero, frio ou calculista. Infelizmente temos o culto da supresa e da espontaniedade, que nos leva à preguiça de desabafar de repente. Desejamos as emoções por cima das pessoas e das coisas, sem pensarmos duas vezes: "Eu amo-te!", "Este é o meu sonho!". Fazemo-lo sem esforço, como se amar fosse, por si só, suficiente: tipo "Não vês que te amo! Porque é que és tao parvo e insistes em nao amar-me?" Esquecendo-se que há sempre alguém que ama primeiro..."

Miguel Esteves Cardoso

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo!E já cá moram de novo os textos, as imagens os desabafos e as particularidades que me fazem sempre voltar uma e outra vez ;)