sexta-feira, 15 de maio de 2009

O encanto.


As vezes dá nisto. O encanto perde-se. Toda a minha vida gostei de encantos e é por eles que me perco e que me guio. As vezes ele abandona-me e vai não sei para onde. Hoje acordei desencantado, deixei de achar graça as cores de África, aos sorrisos e as pessoas e lugares.
As vezes dá nisto. Nem sei bem porque. Não sei se é pelos telefones que não me respondem do outro lado da linha e do mundo, se é apenas por mim. Mas o encanto foi-se. E nem adeus me disse. E ainda bem, que não gosto de despedidas, prefiro um até já, como espero que seja o caso.
A marrabenta já não me disse nada, as crianças também não, olhei com indiferença, sem sequer pensar. Isso preocupa-me. A procissão ainda vai no adro e o encanto já partiu. Os pensamentos invadem-me e tiram-me o sono. As vozes que não oiço, as caras que já não me recordo. Isso preocupa-me. Sempre me baseei em encantos para viver. A saltar de uns para outros. Encantos por sítios, por pessoas, por mulheres, por espaços, por amizades. É isso que me faz avançar. E agora, parece-me que entrei em contra-marcha. Isso preocupa-me. E desancanta-me. Logo a mim, que sempre gostei de encantos. Que me encantem e surpreendam. Vou tentar mais uma vez, ouvir as vozes que tanta falta me fazem e tentar recordar as caras e expressões, que me ligam ao encanto. Vou tentar. As vezes dá nisto. O encanto perde-se. Até já.

1 comentário:

JS disse...

Não te deixes desencantar. Há sempre um encanto para lá daquilo que vês. O desencanto esvazia-me...

É o que eu mais temo.