segunda-feira, 14 de abril de 2008

As raparigas...

"As raparigas (...) têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. "
Miguel Esteves Cardoso

3 comentários:

Anónimo disse...

Gosto. Não sei se já disse, mas agora fica o registo. Gosto e gosto mesmo muito de tudo o que aqui encontro escrito, ou transcrito, citado ou copiado, sentido ou omitido. Questão de gosto...quase nunca comento (fico sem saber o que dizer) mas aqui desde o Funchal até Moçambique só pra dizer que gosto e gosto muito.

PrimaNocte disse...

Bolas... até corei! Muito, muito obrigado. Eu cá também gosto de comentários assim. Poucos mas bons!

Beijinho daqui para aí.

Sadeek disse...

Eu por acaso até gosto de todas...mas isto sou eu...

Abraço