domingo, 2 de dezembro de 2007

Amigos.

Somos assaltados por uma saudade. Dói muito não saber como chegámos aqui e não haver sítio algum onde quiséssemos regressar. O que já passou, pelo menos, já passou. Fomos descuidados, porventura demasiado ousados, impenitentes, mas não merecíamos isto. É insuportável, já disse.

As nossas vidas são todas diferentes e igualmente irreparáveis. Ninguém tem razão para ser mais lastimado do que outro. Cada um tem o direito de ser lastimado e de lastimar o outro. Mas não o fazemos. Temos todos um ar corajoso e a nossa presença não passa despercebida em nenhum ambiente. Somos um grupo fechado preenchido por uma solidão crescente.

Vivemos de histórias que nos contamos. Repetimo-las muitas vezes e pouco importa quem as conta ou quem as viveu. Algumas são inventadas. Rimos delas, por mais trágicas que sejam. Não temos pena de nós, temos pena do mundo, o que quer que isto queira dizer. Mas o que é que isto importa? O que importa é que a nossa situação é insuportável.

Sentados à volta de uma mesa de café move-nos uma fúria em esgotar o tempo com palavras. Em silêncio extinguimo-nos. É a única certeza. Sofremos por saber como cada um precisa de ajuda urgente e somos incapazes de o ajudar no que quer que seja. Pelo contrário, prejudicamo-nos. Somos má companhia uns para os outros, como diriam os nossos pais com razão e já sem ela.

Nem há ninguém que nos acuda se não suportamos ninguém. Sim, incansavelmente escavamos túneis dentro de nós para aí nos perdermos.

Sentados à volta de uma mesa de café bebemos. É horrível ficar a saber o que quer que seja, sem logo esquecermos.

2 comentários:

GR disse...

Há por aí umas quantas frases que bem poderiam ter sido escritas por mim...

*Kiss*

Jasmim disse...

Gostei muito das palavras, principalmente: "Vivemos de histórias que nos contamos". Tão verdade...