Eu sou o tempo; sou nada.
Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável. Concentrei-me em deixar de ser para poder ser tudo, em esquecer para dominar a existência. Eu sou o tempo; sou nada, o nada veloz e imóvel que molda o corpo do tempo. Deixar de ser é ainda acatar as regras implacáveis do ser. Estou esgotado do correr contra a dor, contra a memória, contra a infância, contra o amor e o ódio. Criei uma meta de tranquilidade que se afasta tanto mais quanto mais corro para ele. Não há paz no instante, e eu vivo de instante para instante. Começo a temer que a paz se alimente do sangue da paixão de que abjurei.
(Inês Pedrosa- Fazes-me falta)
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