Maputo.
«Não sei para o que vim. Sei porque tive de vir: para escapar ao que me sufocava. Como se não houvesse outro lugar, outra cidade. Como um estilhaço de ferro é atraído por um íman. Agora devo esperar que algo aconteça, sem ter a mínima certeza de que vai acontecer, com a angústia acrescida de que algo aconteça sem que eu dê por isso, de falhar o inesperado. É preciso, creio, distinguir o que se sabe do que não se sabe; e o que não se sabe do que nem sequer se sabe que não se sabe. O que não sei que não sei é o decisivo. Talvez seja por isso que vim até aqui, que tive de regressar a esta cidade no meio de um deserto. O deserto que alastra, não cessa de alastrar, por todo o mundo. Tenho de aprender de novo a esperar. A estar atento. Repito: facilmente me pode escapar aquilo por que vim, se nem um nome lhe sei dar.»
Quase Gosto da Vida que Tenho - Pedro Paixão
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