quarta-feira, 26 de março de 2008

Das saudades!

A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doida, devidamente honrada. É uma dor que é preciso, primeiro, aceitar. É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos moí mesmo e que nos da cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos distrairmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos, amigos, livros e copos, pagam-se depois em conduídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
M.E.C.

2 comentários:

Anónimo disse...

Beijos de saudades nossas para ti, daqui para aí!!!

Margaret disse...

"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar." lindo... de facto, há a necessidade de fazer-se o luto seja do que for que perdemos...nem que seja o que perdemos temporariamente, que é o que muitas vezes leva à saudade ;) importa abraçar o sentimento e deixá-lo sim, correr até se cansar e transformar-se noutra coisa qualquer: como a alegria de ter tido ou ter aquela, pessoa, aquele momento... seja o que for